04/03/2010

mulher minhota

originally uploaded by Saloia.

No outro dia o nosso amigo Sr. Vestinho (alcunha de Sr. Silvestre), um senhor já de seus quase 55 anos comentou que " a Mary é uma mulher do Minho." Poucos dias antes deste comentario tinhamos estado a falar de uma outra senhora conhecida nossa, uma senhora semi bruta capaz de acartar um saco de batatas de 30 ou mais kilos, bonita mas não muito feminina. Ele também caracterizou ela como sendo uma mulher do Norte. Ora, quando ele me disse que eu era uma mulher do Minho eu ao mesmo tempo, gostei, porque orgulho me de ter sangue Minhoto mas também lembrei me daquilo que tinhamos falado da outra senhora conhecida que não era tão ladylike. Eu sou capaz de leventar 30 ou mais kilos de batatas. Todos os dias carrego pelo menos dois grandes sacos de legumes, kilos de farinha, e fruta nas compras que faço para a Saudade e o Sr. Vestinho já me observou varias vezes, nesta tarefa. Não sei se o Sr. Vestinho acha me "bonita mas não muito feminina." De facto, eu ainda não sei bem o que ele quer dizer quando ele diz que "a Mary é uma mulher do Minho."

Sei, que ele despertou uma coisa em mim ao dizer aquilo. Eu nasci nos Estados Unidos. Vivi lá até ter 29 anos no meio de uma comunidade portuguesa minhota que pretendia a todos os custos incutir nos filhos "tu nascestes aqui, mas também pertences aquela aldeia serrana, estás a ver, onde nós sachamos e semeamos e acartamos kilometros pela essas serras tojo e fento, para os animais que tambem ajudavam produzir da terra comida para sobreviver.... mas cantavamos no meio de tanta miséria....."

Não, eu não esqueço. Está lá dentro de mim e o Sr. Vestinho acordou em mim uma coisa tão boa, que com tanto trabalho e tanto barulho que me ronda há meses....estava adormecido. Talvez até estava adormecida dentro de mim a minha vida inteira até ao momento em que ele me disse isto. Incrivél! Por isto agredeço ele ter me dito aquilo...

No livro da Maria Lamas, a mulher do Minho (rural) nos anos 1950 e 60 era uma mulher que teve de lutar muito. Já agora podemos dizer que a mulher Portuguesa sempre lutou por tudo que ela queria. Mas a mulher do Minho fazia isto em condições geograficamente dificeis. O Minho tem muitas serras e havia uma isolação terrivél, assim como em Trás-os Montes ou as Beiras. Os homens do Minho emigraram em massa deixando as sozinhas para criar a família e cuidar dos campos e casas. As mulheres do Minho trabalhavam no negócio do contrabando, plantavam arvores para o plano nacional de florestação, carregavam fento, lenha, carvão, e crianças à cabeça. E queixavam se pouco. E isto era o normal. Era o dever delas. E pouco mais podiam ambicionar. Eu sei. A minha mãe é uma destas mulheres até aos 21 anos quando realizou o sonho de emigrar para os Estados Unidos da America. .

As vezes quando estou a falar com gente portuguesa, eles perguntam, "Não é de cá, pois não?" Não sou filha de pais Minhotos de Boston. "Ahh, pois nota se no sotaque." No outro dia perguntaram me " A Mary não tem frio? Anda aí com o peito destapado...deve ser do Minho, não?" Eu parei um segundo e sorri, respondi que sim e para mim pensei "Sim, sou uma mulher do Minho."

8 comentários:

Virgínia disse...

Uma mulher do minho é uma mulher forte, de força, determinada e destemida - acho que foi isso que o senhor quis dizer :)

SP disse...

Ibid ibidem :)
E para mim nem que tivesses um belo dum buço farfalhudo eras sempre linda, além de que és mesmo.
SP

Grey´s disse...

Adorei este post!
Tambem a minha mae é uma mulher do Minho, e o meu enorme orgulho, tal e qual como as mulheres da familia dela, nao só porque lá nasceram e viveram, mas pela sua força e determinação, na capacidade que elas tem de lutar e passar pelas dificuldades. Eu tambem la nasci, mas vivi sempre em Lisboa, mas reconheço me algumas caracteristicas de uma verdadeira minhota, ha coisas que a minha mae felizmente me conseguiu passar, espero um dia passar a uma filha minha :)
Passava as férias escolares sempre lá e volto sempre que posso e nao existe outro sitio em que me sinta tao em casa como lá ... ás vezes à noite na rua, chega me ao nariz um cheiro a lenha queimada, e eu penso para mim " cheira à Terra dos avós ", e que saudades ..

Beijinho

Dom Pexote disse...

Lindo.

(*acartar)

Anónimo disse...

Lindo post! Nao ha ninguem como tu. Tens uma sensibilidade unica. Continua a partilhar estes posts.

Fatima

Anónimo disse...

Eu acredito (e sei) que somos muito mais fortes do que aquilo que pensamos. And we do quite well when put in extreme circumstances.

É bom conhecer pessoas orgulhosas das suas modestas raízes.

E já agora venho aqui defender a mulher alentejana. As minhas avós, a minha mãe e tia mondaram e apanharam milho sob o Sol escaldante. Lembro-me dos meus avós não terem água canalizada nem luz. A água era tirada do poço e aquecida à lareira. Ía-se à vila numa carroça puxada por um burro. Eu também me sinto orgulhosa da minha família e fico contente por ainda ter presenciado um modo de vida tão diferente.

The hard work keeps you fit!
;-)

Maria

Rita Maria disse...

Também gostei muito deste post, eu minhota toda!

Pete disse...

Um texto ternurento e sublime que me leva a memória de volta às origens. Ri-me tanto com a parte do "A Mary não tem frio?", pois essa característica de termos pouco frio é tão típica nossa.